O Fórum Mundial da Água de Dakar terá por tema “A segurança da água”. Porque este assunto é hoje central?
Trata-se de lembrar uma evidência: a água está no centro do equilíbrio dos ecossistemas e das sociedades. Ela é um fator essencial para a biodiversidade, a segurança alimentar, a saúde, a dignidade humana e a paz. A segurança da água é a capacidade de garantir a disponibilidade deste recurso, em quantidade e qualidade aceitáveis, tanto para usos humanos, tais como a agricultura, a indústria e a água potável, quanto para as necessidades do meio ambiente e dos ecossistemas.
Ora, este recurso está em grande parte ameaçado por captações excessivas ou por poluições: atualmente, 80% das águas residuais são despejadas sem tratamento na natureza. Não é de admirar, neste contexto, que se tenha verificado uma redução de 84% do número de espécies animais de água doce desde os anos 70. O aquecimento global acentua e intensifica estas tensões. É frequente dizer que a água é sua primeira vítima, mas, seja como for, ela é um importante vetor de tensões.
Temperaturas mais elevadas acelerarão ainda mais o ciclo da água, aumentando a intensidade e a frequência de eventos extremos como inundações e secas. Elas também aumentarão a proliferação de bactérias, num contexto onde o acesso à água potável e a uma higiene adequada não é garantido. Tudo o que fizermos para proteger o recurso nos permitirá ser mais resilientes.
Pois o acesso à água, este direito humano fundamental reconhecido pelas Nações Unidas, ainda está longe de ser assegurado no mundo inteiro: um quarto da humanidade não tem acesso a um serviço de água em quantidade suficiente, em qualidade suficiente e em casa. Para o saneamento, o quadro é ainda pior: quase metade da população mundial não tem acesso a um serviço de qualidade. Certas capitais não possuem estações de tratamento de esgoto. Isto não deixa de ter consequências sanitárias, sociais, econômicas e ambientais.
O que podemos esperar deste Fórum Mundial da Água?
Esperamos que a comunidade internacional se mobilize sobre estas questões relacionadas com a água e o saneamento. Hoje não estamos no ritmo certo de melhoria: a ONU considera que, até 2030, seria necessário avançar quatro vezes mais depressa para atingir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº 6 [Garantir o acesso de todos a serviços de abastecimento de água e saneamento geridos de forma sustentável]. Esta questão deve ser uma das prioridades dos Estados.
O Fórum Mundial da Água é o principal evento internacional sobre as questões de água doce, na ausência de uma convenção ou instituição dedicada nas Nações Unidas. Ele é realizado a cada três anos desde 1997, e esta edição é a primeira a ser realizada na África Subsaariana, onde os desafios relacionados com a água são mais importantes. Será também uma etapa antes da Conferência das Nações Unidas sobre a Água, prevista em 2023, a primeira desde 1977!
O Grupo AFD divulgará mensagens sobre a melhoria da governança dos recursos hídricos, incluindo a governança transfronteiriça, e sobre o interesse das soluções baseadas na natureza. Ele também destacará a necessidade de financiamento e o papel que os bancos públicos de desenvolvimento podem desempenhar, além de lembrar seu compromisso contínuo com a África sobre estas questões. Devemos mostrar que existem respostas para estes problemas. A situação em que nos encontramos não é uma fatalidade. As soluções existem, mas a questão precisa ser enfrentada de frente.
Que soluções o Grupo AFD apoia?
A água é para nós um setor histórico de intervenção. Em 2021, o Grupo AFD consagrou cerca de 1 bilhão de euros a este tópico, dos quais 160 milhões em subvenções. Cerca de 300 projetos estão atualmente sendo implementados no mundo em relação com a água. Eles beneficiaram 4 milhões de pessoas no ano passado. Nossas prioridades são múltiplas: desenvolver o acesso aos serviços, apoiar reformas de governança e melhorar a resiliência ecológica.
Em 2021, por exemplo, anunciamos um empréstimo de 80 milhões de euros ao Governo iraquiano para a construção de 200 km de rede de esgotos e de uma estação de tratamento de águas residuais a noroeste de Bagdá. Cerca de 110 mil habitantes serão beneficiados. Em Djibouti, financiamos uma assistência técnica junto ao Serviço Nacional de Água e Saneamento, a fim de ajudar este operador a melhorar várias funções essenciais, tais como a gestão da rede, a manutenção e a relação com o cliente.
Uma subvenção de 6 milhões de euros do Grupo AFD também permitirá a realização de um projeto para proteger os recursos hídricos e melhorar a recarga dos lençóis freáticos no Senegal, através de soluções baseadas na natureza. Cerca de 60 mil horticultores (metade dos quais são mulheres) serão assim formados a um melhor uso da água.