Como parte dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, o esporte está sendo apresentado como uma alavanca para o desenvolvimento sustentável. Mas como ele pode mudar de maneira concreta a vida cotidiana das pessoas?
Arnaud Assoumani: Coletivo ou individual, o esporte é, antes de mais nada, um momento de diversão, de troca. Quando praticamos esportes, nos distanciamos da vida cotidiana. E isso é essencial quando as pessoas enfrentam um dia-a-dia difícil. O esporte também é um motor fantástico para a educação, já que permite abordar diferentes temas, como disciplina, inclusão, igualdade de gênero... Ele também ensina valores estruturantes, como solidariedade, ajuda mútua e igualdade. E é aí que o esporte pode se tornar uma ferramenta muito poderosa, especialmente quando a pedagogia e o jogo são utilizados para promover virtudes educacionais, como faz o programa da Play International.
Você está envolvido com a Play International há vários anos. Pode nos contar sobre os benefícios de suas ações para os jovens?
Para mim, a abordagem da Play International é uma mistura de esporte e educação cívica. Por exemplo, quando estive em Mayotte com a AFD, participei de vários workshops para inventar jogos com um espírito de cooperação, e não de competição. A ideia era evitar jogos em que uns ganham às custas dos outros: ou todos ganham ou todos perdem. Trabalhamos sobre a igualdade de gênero, com um jogo inventado que se assemelhava a um jogo de futebol de dez jogadores, mas com as regras alteradas para conscientizar os jovens sobre a injustiça: primeiro, as meninas não podiam mais passar a bola para outras meninas, depois não podiam mais marcar gols, não podiam mais falar... Depois, invertemos os papéis: era a vez dos meninos... Em seguida, houve um debate e uma troca de conhecimento histórico sobre a emancipação das mulheres, para questionar os hábitos desses jovens. Os meninos ajudam nas tarefas cotidianas? As meninas podem sair como seus irmãos mais novos? As liberdades são as mesmas? É claro que só vamos conseguir mudar coisas tão profundamente enraizadas quanto a educação, o funcionamento, a cultura ou as tradições de uma sociedade no longo prazo. Mas essas iniciativas tem um poder enorme, e constatamos isso rapidamente!
A situação em algumas regiões parece tão ruim que é difícil acreditar que o esporte poderia mudá-la. Qual é a sua opinião sobre isso?
Para aqueles cuja situação familiar não permite ir à escola regularmente, por exemplo, o esporte tem muitas virtudes. Ele oferece a oportunidade de abordar questões de saúde, desde bons hábitos alimentares até o sono. Um dos principais problemas em muitos países africanos é o analfabetismo, e o esporte também pode ajudar nesse aspecto. Eu apoio projetos que associam o esporte a culturas locais mais tradicionais. O objetivo é produzir kits que ajudem as populações a se interessarem novamente pelo aprendizado, pelo conhecimento, mas através de outras formas de trabalho, outros métodos educacionais diferentes dos tradicionais que vemos nas escolas.
Os Jogos Olímpicos de 2024 começam. Qual é o seu estado de espírito?
Faz dez anos que não me sinto tão bem: vai ser incrível! Estou orgulhoso e tranquilo porque é a sexta vez que sou selecionado para os Jogos, e nunca fui selecionado tão cedo em minha carreira. Vou competir na frente de toda a minha família, pessoas que não se viam há quinze anos, muitos amigos... Será uma grande equipe: haverá uma multidão com todos os torcedores franceses. Meu objetivo é fazer com que a França e os jovens se movimentem e pratiquem esportes. É uma questão importante de saúde pública poder representar seu país e se destacar, mesmo que os atletas não ganhem necessariamente medalhas. É inspirador, ajuda as pessoas a se identificarem, e a questão da representatividade é de extrema importância. Independentemente de nossas diferenças, no final das contas, quando você se identifica com alguém isso te anima para praticar esportes, mas também para investir em outros projetos profissionais ou pessoais.
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Que legado positivo você acha que os Jogos Olímpicos de 2024 deixarão?
Pela primeira vez na história, o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos está pensando no legado que será deixado após os Jogos. Para mim, o mais importante será mudança na maneira como as pessoas encaram a deficiência e a diferença, graças ao catalisador proporcionado por esses Jogos Paralímpicos. Existe um fundo de dotação para o impacto e o legado de 2024. Ele permitirá que mais de 3.000 clubes na França sejam treinados para receber diferentes tipos de deficiência. Outro exemplo é o programa de natação), que terá como alvo os jovens de áreas rurais e bairros prioritários. Ele também promoverá a igualdade de gênero na governança de clubes e federações. Também estou pensando nos programas Impact 2024 e Ticket for Change, apoiados pela AFD, que permitirão que homens e mulheres por trás de projetos com impacto social e societal acelerem sua implementação. Podemos ganhar de dez a vinte anos em termos de mudança de atitude em relação à deficiência com os Jogos Paralímpicos, ou à inclusão das mulheres, com esses Jogos Olímpicos paritários.