Apesar do progresso que a América Latina ainda precisa fazer em termos de desenvolvimento sustentável, por exemplo, em atividades de mineração ou desmatamento, a região está na vanguarda em questões de governança e justiça ambiental, conforme demonstrado pelo Acordo de Escazú (Costa Rica), assinado por 24 países latino-americanos e ratificado por 12 até o momento. De acordo com Olivier Dabène (veja o vídeo abaixo), coautor do atlas e presidente do Observatório político da América Latina e do Caribe (Opalc) da Sciences Po Paris, esse acordo deve garantir a proteção dos ativistas ambientais e "permitir que todos os cidadãos latino-americanos tomem medidas legais contra projetos que resultem em um impacto sobre o meio ambiente".
Das 17 iniciativas apresentadas no Atlas da América Latina e do Caribe, vinculadas aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, saiba mais sobre três exemplos representativos do progresso humano e ambiental alcançado na região nos últimos anos.
Veja todas as 17 iniciativas em mapas e números
ODS 7 - ENERGIA LIMPA COM CUSTO ACESSÍVEL
COSTA RICA, LÍDER REGIONAL EM ENERGIAS RENOVÁVEIS
Pioneira na luta contra as mudanças climáticas, a Costa Rica adotou um ambicioso plano de descarbonização em 2019 que visa alcançar a neutralidade de carbono até 2050. A AFD está apoiando o país na implementação desse plano, cuja meta é, particularmente, promover sistemas de produção agrícola de baixo carbono, melhorar o transporte público e a qualidade do ar em áreas urbanas, além de promover a restauração e a proteção de ecossistemas com alto potencial de captura de carbono.
Em 2022, pelo oitavo ano consecutivo, o país produziu mais de 98% de energia renovável, graças a suas 14 usinas hidrelétricas (que geram 70% da eletricidade do país), seus sistemas geotérmicos baseados na atividade dos vulcões e suas turbinas eólicas. O parque eólico de Los Santos, criado em 2010 para substituir uma usina de energia não renovável, fornece eletricidade limpa a 50.000 costarriquenhos.
ODS 10 - REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES
DISPOSITIVOS DE ACOLHIMENTO PARA MIGRANTES VENEZUELANOS NO EQUADOR
Devido à crise política e econômica que atinge a Venezuela desde 2012, cerca de 6,8 milhões de pessoas foram levadas a se refugiarem em países vizinhos.
Como lidar com esse enorme movimento migratório e ajudar de maneira mais eficaz essas pessoas em situação vulnerável? Em 2018, uma Plataforma de Coordenação Regional Interagências para Refugiados e Migrantes da Venezuela (R4V) foi criada pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) e o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), reunindo os esforços de atores governamentais e não governamentais, internacionalmente e em 17 países da América Latina e do Caribe.
Entre eles, o Equador se tornou um ator importante do R4V, acolhendo mais de 11.000 venezuelanos entre janeiro e março de 2023. O país criou um Grupo de Trabalho de Integração Social e Econômica (Gise), que estabeleceu redes de apoio e espaços participativos para os refugiados, incentivando o diálogo pacífico e significativo com as comunidades locais.
Entre as ONGs envolvidas, a Haciendo Panas, com sede em Cuenca, oferece aos migrantes venezuelanos um local para socialização, preparando-os para o mercado de trabalho e promovendo o diálogo intercultural.
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ODS 14 - VIDA AQUÁTICA
CHILE, UM ESTADO PROATIVO QUANDO SE TRATA DE PROTEÇÃO MARINHA
Enquanto a Costa Rica sediará uma conferência de alto nível sobre o oceano em junho de 2024, um ano antes da Terceira Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano em Nice, vários países latino-americanos estão fazendo o máximo possível para melhorar a proteção das áreas marinhas e costeiras.
Em 2010, a Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) em Aichi, Japão, estabeleceu uma meta global: salvar 10% das áreas marinhas e costeiras até 2020. Na América Latina e no Caribe, sobretudo graças ao trabalho conjunto com ONGs e instituições internacionais, a área protegida quintuplicou entre 2010 e 2019, com uma cobertura total de cerca de 24%.
O Chile é um dos países com melhor desempenho, com 41% de suas áreas marinhas e costeiras protegidas, mesmo que a pesca seja um recurso vital para a economia e a segurança alimentar do país. O país conseguiu estabelecer um sistema de proteção que leva em conta tanto a biodiversidade quanto as economias locais, incentivando práticas de pesca em pequena escala.
Na baía de Pisagua, por exemplo, no norte do país, pesquisadores revelaram o papel essencial da baía no ecossistema do Pacífico Sul, um local de alta concentração de microorganismos e reprodução de espécies, mas também destacaram a gestão responsável dos recursos naturais por parte dos pescadores locais.