Que conclusões podem ser tiradas cinco anos após a assinatura do Acordo de Paris sobre o Clima?
Damien Navizet: Em primeiro lugar, que este acordo continua bem vivo. A União Europeia e 187 países o ratificaram, inclusive os Estados Unidos, que partiram mas voltarão. Juntos, eles representam 97% das emissões globais de gases de efeito estufa. Trata-se de um acordo inclusivo e abrangente que entrou em vigor em tempo recorde. Pela primeira vez, cada país recebeu carta branca para definir seus compromissos.
Várias avaliações apontaram a insuficiência dos compromissos assumidos pelos Estados em 2015, que nos colocou numa trajetória de aquecimento global de 3 °C daqui a 2100. No entanto, o acordo prevê a revisão dos compromissos em alta de cinco em cinco anos. Seja dito de passagem, ele impeliu atores não estatais a assumir compromissos a favor do clima, como nos Estados Unidos, onde vários estados e grandes corporações adotaram objetivos de emissão de gases de efeito estufa. A revisão dos compromissos começou a funcionar com um número crescente de países anunciando objetivos de neutralidade de carbono: Japão e Coreia do Sul até 2050, China até 2060... A trajetória de aquecimento diminuirá então gradualmente.
O que o Acordo de Paris significa concretamente para uma instituição como a AFD?
Nos últimos dez anos, o clima tem sido um forte marcador da ação do Grupo AFD. Este posicionamento foi reforçado pelo mandato que nos foi conferido pelo Governo francês, em julho de 2017, para apoiar a aplicação do Acordo de Paris e, posteriormente, pela adoção de nossa estratégia climática “100% Acordo de Paris” (2017-2022), que visa apoiar transições de baixo carbono e resilientes nos países em desenvolvimento.
A partir da COP21, a AFD comprometeu-se, especialmente, a ser um banco alinhado com o Acordo de Paris. Isto significa que estamos excluindo o financiamento de novos projetos que não vão na direção defendida pelo acordo em nossos países de intervenção. Também acompanhamos cerca de trinta países na elaboração de suas estratégias climáticas de longo prazo, através de nossa ferramenta Facilité 2050, bem como 15 países em sua adaptação aos impactos das mudanças climáticas por meio do fundo Adapt’Action.
Em 2019, o Grupo AFD mobilizou 6,1 bilhões de euros de financiamento a favor do clima, distribuídos da seguinte maneira: 3,3 bilhões destinados à mitigação das mudanças climáticas, permitindo evitar a cada ano a emissão de 9,9 milhões de toneladas de CO2 equivalente, e 2 bilhões de euros consagrados a projetos de adaptação, 41% dos quais na África.
Esses financiamentos também deram origem a um certo número de investimentos privados a favor do clima: mais de 2 bilhões de euros em 2018 e 2,7 bilhões em 2019, segundo nossas estimativas. Além disso, a revisão intercalar de nossa estratégia climática revelou alguns progressos que ainda podemos aplicar a nossas práticas internas. Desde 2012, temos compensado totalmente as emissões de gases de efeito estufa geradas por nossas viagens de negócios, compras, edifícios, etc. Mas podemos ir ainda mais longe e controlar essas emissões.
Qual é a dinâmica atual nos bancos públicos de desenvolvimento?
O Acordo de Paris criou uma dinâmica em todo o mundo financeiro. Todos os bancos estão conscientes de que as mudanças climáticas afetam seu risco de crédito. Eles querem agora ser capazes de compreender e gerir os diferentes riscos, mas também as implicações de uma transição de baixo carbono.
A nível dos bancos públicos de desenvolvimento, o International Development Finance Club (IDFC) anunciou, em setembro de 2019, durante a Cúpula de Ação Climática da ONU, que seus membros mobilizariam 1 trilhão de dólares em financiamentos para o clima até 2025.
A dinâmica prosseguiu em 2020 com a Cúpula Finança em Comum, coorganizada pela AFD de 9 a 12 de novembro: através de uma declaração comum, os bancos públicos de desenvolvimento do mundo inteiro - cerca de 350 - comprometeram-se a apoiar a transformação da economia e das empresas em direção a um desenvolvimento sustentável e resiliente. Trata-se, principalmente, de alinhar seus financiamentos com os objetivos do Acordo de Paris. Por exemplo, deixando de apoiar projetos associados ao carvão, agindo a favor da biodiversidade ou ainda, aplicando as normas ambientais e sociais mais exigentes. Num contexto onde a COP sobre o clima foi adiada, esta cúpula foi útil para fazer progressos nestas questões.
Ler também: 10 fatos a reter sobre a primeira cúpula mundial dos bancos de desenvolvimento
Um evento virtual será realizado em 12 de dezembro para comemorar o quinto aniversário do Acordo de Paris. O que podemos esperar?
No sábado, 12 de dezembro, a um ano da COP26, que terá lugar em Glasgow no final de 2021, a França, o Reino Unido e as Nações Unidas, em parceria com o Chile e a Itália, organizam a Cúpula da Ambição Climática, por ocasião do quinto aniversário da adoção do Acordo de Paris sobre o Clima.
Durante este evento virtual, chefes de Estado e de Governo, bem como coalizões de atores não estatais, apresentarão novos compromissos em matéria de atenuação do aquecimento global, adaptação e financiamento da ação climática internacional. Um dos principais anúncios esperados é o aumento dos objetivos de redução das emissões de gases de efeito estufa da União Europeia para -55% até 2030 (em relação a 1990), contra -40% atualmente. Vários países também confirmarão ou anunciarão objetivos de neutralidade de carbono. Porém, para um anúncio americano, ainda é um pouco cedo.
O dia 12 de dezembro também marcará o terceiro aniversário da primeira Cúpula One Planet, cujo tema central é o financiamento. Nessa ocasião, um evento recordará as conquistas das coalizões formadas durante as cúpulas de dezembro de 2017, setembro de 2018 e março de 2019. A próxima Cúpula One Planet será realizada em 11 de janeiro, em Paris, e dedicará especial atenção às formas de agir em prol da biodiversidade. A comunidade internacional terá que elevar o nível de ambição em 2021, tanto no que se refere a esta questão como à questão das mudanças climáticas.