REDUZIR O FINANCIAMENTO DE ENERGIAS FÓSSEIS
Em seu sexto relatório, cuja última parte foi publicada em 4 de abril de 2022, os cientistas do IPCC apelam a reduzir de maneira “substancial” o consumo de energias fósseis. Em linha de mira: o financiamento dos setores de gás, petróleo e carvão, que em 2021 atingiu cerca de 742 bilhões de dólares (684 bilhões de euros) por intermédio dos 60 maiores bancos mundiais, de acordo com o relatório do Banking on climate chaos publicado por sete ONGs).
Os compromissos em favor da cessação destes financiamentos multiplicam-se. Em novembro de 2021, na COP26 de Glasgow, o Grupo AFD também se comprometeu a deixar de financiar energias fósseis (carvão, petróleo, gás) a partir de 2022. Este já era o caso para qualquer projeto de produção de energia à base de carvão (desde 2013), de centrais a óleo combustível ou a diesel (excluindo hibridação), bem como para projetos de exploração, produção ou transporte das três principais energias fósseis.
INVESTIR MAIS EM ENERGIAS RENOVÁVEIS
Dar as costas às energias fósseis pressupõe aumentar o uso de fontes de energia de baixa emissão de carbono: i.e., as energias renováveis, como a solar e a eólica. Essas tecnologias fizeram enormes progressos nos últimos anos, observam os especialistas do IPCC, e estão se tornando “cada vez mais viáveis”, a ponto de agora rivalizar economicamente com o carvão, o gás e o petróleo em muitas regiões.
Através de seus financiamentos (empréstimos, subvenções, garantias), o Grupo AFD acompanha há muitos anos o desenvolvimento das energias renováveis nos países em desenvolvimento. Por exemplo, sua subsidiária Proparco apoiou a empresa d.light, que trabalha para tornar os sistemas solares domésticos acessíveis a clientes de baixa renda no Quênia, Nigéria, Uganda e Tanzânia. Na República Dominicana, participou do financiamento de um parque eólico de 52 megawatts, que permite, desde 2019, evitar a emissão de 142 mil toneladas de CO2 equivalente por ano.
LIMITAR O CONSUMO DE ENERGIA E DE RECURSOS
Outra questão importante identificada pelo IPCC é a adaptação dos modos de vida à crise climática, ou seja, o controle da demanda em energia, recursos naturais e produtos alimentícios. Diferentes alavancas podem ser acionadas: melhor eficiência energética de edifícios e equipamentos, desenvolvimento de meios de transporte que emitam menos gases de efeito estufa, diminuição de nosso consumo através de novos hábitos, redução do desperdício de alimentos, etc.
“A maior parte do potencial de mitigação [do impacto sobre o clima] das novas construções está nos países em desenvolvimento”, observa o IPCC em seu relatório. A estratégia de financiamento do Grupo AFD vai nesse sentido, principalmente através do apoio financeiro concedido ao Programa de Eficiência Energética para os Edifícios (PEEB) implementado em vários países do Magrebe e do Oriente Médio.
Em Addis Abeba (Etiópia), a Agence Française de Développement apoiou o município na melhoria de sua oferta de transporte público, com a construção de uma primeira linha de ônibus de alto nível de serviço (vias reservadas, abrigos para ônibus, sistema de gestão de tráfego) capaz de transportar 5.400 pessoas por direção e por hora. Na Turquia, o projeto do bonde do Corno de Ouro, no coração histórico de Istambul, beneficiou de um financiamento de 93 milhões de euros.
PROTEGER OS ECOSSISTEMAS
As florestas, oceanos, solos agrícolas, áreas úmidas e outros ecossistemas desempenham um papel crucial na regulação do clima, absorvendo uma proporção significativa de nossas emissões de CO2. Infelizmente, essas áreas naturais sofrem degradações consideráveis, que reduzem não somente sua capacidade de armazenagem de carbono, mas também de proteção das populações face a acontecimentos climáticos extremos. Seu nível alarmante de degradação faz com que sejam hoje aliados frágeis no combate às mudanças climáticas.
Sua proteção tornou-se, assim, uma prioridade. Tanto mais que a consecução dos objetivos do Acordo de Paris sobre o clima - limitar o aumento das temperaturas médias de 2 °C ou mesmo 1,5 °C em 2010 - é igualmente indispensável para preservar a biodiversidade desses ecossistemas e suas funções.
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Para limitar a degradação da natureza e restaurar os ecossistemas, o Grupo AFD comprometeu-se a garantir que até 2025 pelo menos 30% de seus financiamentos para o clima apresentem também benefícios para a biodiverdsidae. Este objetivo foi atingido em 2021 com 2 bilhões de euros de financiamento climático favorável à natureza, ou seja, 33%.
O programa Ghabati Hayati, aprovado em 2021 por um valor de 103 milhões de euros, acompanha, por exemplo, a gestão sustentável das florestas e parques nacionais do Marrocos. Ele contribui para uma transição de baixo carbono, resiliente e inclusiva do país, bem como para a proteção e manutenção de sua biodiversidade.
PLANEJAR A TRANSIÇÃO
Ter sucesso na transição rumo a sociedades menos emissoras de gases de efeito estufa pressupõe a organização de ações a realizar a diferentes níveis, agrupando-as no âmbito de uma estratégia coerente. É isto que o Grupo AFD está fazendo em muitos países.
Várias ferramentas financeiras são utilizadas. A Facilidade 2050 apoia cerca de trinta países parceiros (Argélia, Brasil, Camboja, etc.) na elaboração e implementação de suas estratégias de desenvolvimento a longo prazo de baixo teor de carbono e resiliente. Através de um programa de cooperação técnica apoiado pela Expertise France, a Facilidade apoiou, por exemplo, a Colômbia na formulação de sua estratégia climática e sua submissão à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (UNFCCC) em 2021. Também financiou o projeto de modelização macroeconômica Gemmes, que já permitiu medir os impactos socioeconômicos da mudança climática no Vietnã.
Os empréstimos de política pública constituem uma outra ferramenta essencial de apoio à formulação e aplicação de ações públicas específicas rumo a trajetórias de desenvolvimento menos carbonadas. Três componentes estão reunidos: apoio orçamental, diálogo baseado numa matriz de indicadores e cooperação técnica. Um empréstimo deste tipo permitiu uma cooperação de grande envergadura entre a Turquia e a França sobre a questão da adaptação das florestas aos desafios ambientais, de 2019 a 2021. No ano passado, 1,6 bilhão de euros foram consagrados ao financiamento orçamental de política pública em favor do clima.