Cúpula das Nações Unidas sobre Biodiversidade: “Todos os atores da economia devem contribuir para a manutenção dos ecossistemas!”

publicado em 30 Setembro 2020
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Sommet biodiversité des Nations unies : « L’économie mondiale doit prendre sa part dans l’entretien des écosystèmes »
Por ocasião do Encontro de Cúpula das Nações Unidas sobre Biodiversidade, realizado em 30 de setembro, Gilles Kleitz, diretor do Departamento de Transição Ecológica e Gestão de Recursos Naturais da Agence Française de Développement (AFD), faz um balanço da dinâmica atual em favor da proteção dos ecossistemas.
Gilles Kleitz AFDEsta é a primeira vez que a ONU organiza uma cúpula sobre biodiversidade à margem de sua Assembléia Geral. O que podemos esperar?

Gilles Kleitz: Trata-se de uma mobilização em favor da biodiversidade e a um nível sem paralelo. Cerca de sessenta chefes de estado e de governo acabam de se comprometer a fazer todo o possível para reverter a curva de erosão da biodiversidade até 2030. Estamos destruindo ecossistemas que nos beneficiam, correndo o risco de um dia nos depararmos com terras que não poderemos mais cultivar, florestas destruídas, oceanos desprovidos de peixes consumíveis e bacias hidrográficas que não nos fornecerão mais água doce utilizável.

Segundo estimações do Fórum Econômico Mundial, em janeiro de 2020, metade da atividade econômica mundial depende diretamente do estado dos ecossistemas. Ora, não consideramos o custo ambiental de nossas economias, orçamentos, riquezas, etc. O desafio atual é transformar a economia mundial numa economia pró-natureza que tome parte na manutenção dos ecossistemas e os fortaleça. Através de grandes transformações em termos de equidade e regulamentação da economia, bastaria investir 1% do PIB mundial na manutenção da biosfera para atingir este objetivo. 

Atualmente, remuneramos o planeta por sua generosidade com apenas 0,1% do PIB mundial. O que fazemos não é particularmente ineficaz, mas terrivelmente insuficiente... Todos os atores da economia devem contribuir para a manutenção dos ecossistemas.

A Europa mostra uma certa liderança nesta questão. É a única, junto com a França e o Reino Unido, cujo plano de recuperação pós-Covid integra objetivos em termos de clima e biodiversidade significativos. Podemos esperar que a Assembléia Geral da ONU encoraje os grandes países emergentes que estão atualmente relutantes em relação a este assunto, tais como o Brasil, a aderir ao movimento. Os louros da vitória não serão conquistados de imediato, mas a idéia é criar um movimento, uma mobilização que eventualmente se torne geral.
 

Paralelamente a esta cúpula, existem outros avanços em favor da biodiversidade a nível internacional?

Atualmente, muitas iniciativas estão sendo desenvolvidas. Por exemplo, o Banco HSBC declarou que pretende implementar o maior fundo de investimento já criado para uma economia pró-natureza. Mais de 550 grandes empresas também iniciaram uma trajetória de redução de sua pegada ecológica até 2030... Uma Força-Tarefa sobre a publicação dos riscos ligados à natureza no setor financeiro (Taskforce on Nature-related Financial Disclosures, TNFD) também está em curso, com cerca de sessenta atores públicos e privados bastante diversos, tais como o Axa E&Y, o Yes Bank, o Banco Mundial e a AFD. 

Estas iniciativas devem inscrever-se na agenda internacional programada para o final de 2020, entre o Congresso da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), a COP15 da Convenção sobre a Diversidade Biológica, em Kunming (China), a COP26 sobre o clima. Todos estes eventos foram adiados para 2021. Hoje nos deparamos com uma agenda flutuante. Uma cúpula One Planet focada na questão da biodiversidade está prevista para janeiro. 

A cúpula dos bancos públicos de desenvolvimento Finança em Comum, organizada de 10 a 12 de novembro, durante o Fórum da Paz de Paris, dará igualmente um lugar importante aos desafios climáticos, à biodiversidade e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em geral.


Como a AFD está se mobilizando?

O financiamento da proteção dos ecossistemas é uma questão prioritária. No âmbito da TNFD, por exemplo, estamos trabalhando para criar diretrizes que permitam estimar a pegada ecológica dos investimentos do setor financeiro, para que as partes interessadas possam avaliar melhor os riscos aos quais se expõem.

Estamos também no processo de convergência de nosso financiamento para o clima e a biodiversidade. Até 2025, a meta é que 30% do financiamento da AFD para o clima seja baseado em cobenefícios em termos de biodiversidade e soluções baseadas na natureza. Esperamos, assim, poder mostrar o caminho aos outros bancos de desenvolvimento.

Em 2019, consagramos 457 milhões de euros à biodiversidade mundial. Em 2020, devemos ultrapassar 530 milhões. Este ano, estamos apoiando um programa inovador de defesa da Floresta Amazônica e da agricultura sustentável – TerrAmaz – bem como um projeto visando restaurar ecossistemas vitais para as populações no Oceano Índico. Também estamos lançando uma iniciativa de 1 bilhão de euros sobre a agroecologia e o desenvolvimento rural resiliente às mudanças climáticas na região do Grande Sahel que promoverá soluções baseadas na natureza e setores verdes.