Qual é a ambição do governo colombiano diante dos desafios ecológicos, econômicos e sociais?
O nosso desafio é justamente conseguir conciliar essas três transições: social, econômica e ecológica. As desigualdades ainda são consideráveis na Colômbia, e nós iniciamos uma reforma fiscal quando assumimos o ministério das Finanças e do Crédito público, em agosto de 2022, com o intuito de otimizar as despesas sociais sem deixar de lado a viabilidade orçamentária. Isso nos permite tranquilizar o mercado financeiro, demonstrando nossa responsabilidade. Com relação à economia, uma fatia significativa da receita colombiana é oriunda da exportação do petróleo e do gás, e queremos modificar essa situação através de uma transição de nossas exportações, mesmo que seja difícil atingir esse objetivo no curto prazo.
Por fim, a transição ecológica é a tarefa mais complicada. As duas outras já estão sendo executadas, mas seu nível de necessidade é o mesmo. Por exemplo, na Colômbia não temos uma malha ferroviária extensa. O transporte de mercadorias se dá, na maior parte dos casos, através de caminhões, ou seja, precisa de petróleo, o que contribui para as emissões mundiais de gases do efeito estufa. Atualmente, estamos concebendo um projeto de reindustrialização ecológica para melhorar a situação. Paralelamente, precisamos apoiar programas de luta contra o desmatamento: nisso consiste o trabalho do ministério do Meio ambiente.
Como o programa Gemmes (Gemas) da AFD ajudou a identificar as oportunidades ligadas à transição de baixo carbono?
Esse projeto de cooperação entre a AFD e a Colômbia foi lançado há quatro anos. Naquela época, não se ouvia falar sobre as vulnerabilidades macroeconômicas da transição ecológica. Ao passo que, hoje, quando nos perguntamos sobre a viabilidade de acabar com a exploração e a extração do petróleo e do gás, essas vulnerabilidades são evidentes. O modelo Gemmes – que foi adaptado à realidade da Colômbia – terá papel preponderante no debate público sobre essas questões. Na próxima etapa desse projeto que desejamos desenvolver com a AFD, vamos conectar a dimensão da dívida externa e da dívida climática.
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Como garantir uma verdadeira perenidade da trajetória de desenvolvimento da Colômbia, ou seja, que seu desenvolvimento seja realmente sustentável?
A perenidade não deve ser apenas ambiental, mas também social e econômica. Contudo, uma série de economias emergentes são muito dependentes do que acontece no exterior. Quando o petróleo se desvaloriza, a Colômbia recebe menos divisas estrangeiras e a taxa de câmbio do peso colombiano cai. De maneira mecânica, o custo de vida aumenta, já que diversos produtos de consumo são importados. Assim, não podemos visar um desenvolvimento sustentável se não possuirmos os recursos necessários para investir. É preciso desenvolver os três eixos paralelamente. Porém esse é um desafio gigantesco! Sobretudo porque 20% do orçamento nacional é dedicado ao reembolso da dívida. Consequentemente, se as economias emergentes realmente desejarem conquistar uma sustentabilidade robusta, devemos pensar na questão das restrições externas a ela vinculadas. E, assim, a questão do comprometimento dos protagonistas financeiros a serviço de uma transição ecológica, que não podemos assumir de maneira isolada.
Organizações como a AFD ou o Banco interamericano de desenvolvimento (BID) nos fornecem empréstimos com boas condições. Eles não nos pressionam demasiadamente. Mas os investidores privados, que representam a grande maioria dos volumes financeiros em questão, possuem um único interesse: que não deixemos de reembolsar a dívida contraída. Esse é um problema que a Colômbia não pode resolver sozinha. Precisamos de colaboração internacional, pelo menos na escala da América Latina, sobretudo para renegociar a gestão da dívida. Considero que chegou a hora de iniciar um verdadeiro diálogo.
Qual é a importância do apoio da AFD?
A Colômbia é um dos maiores clientes da AFD. Pudemos contrair empréstimos com taxas de juros interessantes para apoiar a implementação de grandes reformas climáticas e ambientais, mas também sociais. O governo tem trabalhado cada vez mais com a AFD! Aliás, desejamos estreitar ainda mais esses laços. Há pouco, falei na mídia sobre a segunda fase da Facilidade de pesquisa sobre as desigualdades, e pude concluir que o trabalho da AFD é reconhecido no país.