Diretamente da sala de trading: como a AFD se financia?

publicado em 11 Setembro 2020
  • logo linkedin
  • logo email
AFD, siège
A sala de trading desempenha um papel essencial no processo de financiamento da AFD, a cada ano mais importante, à medida que o volume de empréstimos aumenta.

A Agence Française de Développement (AFD) é um banco, mas não como os outros: além de se dedicar ao financiamento do desenvolvimento, não recebe qualquer depósito de clientes que possa contribuir para financiar os empréstimos que concede. Sua condição de empresa de financiamento também a exclui expressamente do recebimento de fundos provenientes do público.

Todos os empréstimos concedidos pela AFD são, portanto, refinanciados através de empréstimos, principalmente a médio e longo prazo. Donde a importância de sua sala de trading, onde sete operadores administram todas as operações do Grupo. 

A função da sala de trading é administrar todos os financiamentos e os riscos relacionados. Estes podem ser agrupados em três grandes categorias: risco de liquidez, caso a AFD não consiga cumprir um prazo de reembolso de um empréstimo; risco de taxa de juros, caso, por exemplo, a AFD tenha emprestado a uma taxa baixa e o preço do dinheiro aumente, fazendo subir o custo de seus financiamentos; e, finalmente, o risco cambial. 

Com relação às duas últimas questões, a política da AFD é simples: o banco realiza operações de hedging – swaps - assim que empresta a uma taxa de juros fixa ou em moeda estrangeira. O objetivo? Com relação às taxas de juros, todos os ativos e passivos são economicamente equivalentes a empréstimos ou financiamentos a taxas de juros variáveis. Assim, se as taxas de mercado subissem brusca e subitamente, elevando o preço dos empréstimos contraídos pela AFD, no passivo, os juros recebidos sobre os empréstimos concedidos, no ativo, seguiriam o mesmo caminho.

Quanto ao risco cambial, as transações de swap fazem com que todo o balanço seja expresso em euros. O risco é, portanto, eliminado desde que um empréstimo é concedido. 


Empréstimos em forte crescimento

Resta a questão da liquidez. É evidente que a AFD não pode ficar sem dinheiro. A questão é ainda mais importante quando se sabe que o banco está emprestando cada vez mais, em linha com a estratégia de desenvolvimento aprovada pelo poder executivo no início do mandato quinquenal de François Hollande, e confirmada por Emmanuel Macron.

Em 2015, os empréstimos concedidos para financiar projetos em países em desenvolvimento e emergentes geraram 3,4 bilhões de euros em desembolsos por parte da AFD. Em 2017, este montante havia atingido 5,6 bilhões de euros. Para 2020, a AFD havia previsto fornecer 7,2 bilhões. Ora, este orçamento será certamente excedido. E a meta estabelecida antes da crise, para 2022, é de 9,5 bilhões. 

Para financiar esses créditos, a AFD dispõe, em primeiro lugar, de recursos recorrentes correspondentes aos reembolsos de empréstimos anteriormente concedidos. Empréstimos que são, essencialmente, amortizáveis ano após ano. Não obstante, este recurso é muito insuficiente, e continua a sê-lo cada vez mais, à medida que a AFD aumenta o volume anual de sua atividade de concessão de empréstimos. O banco deve, portanto, encontrar financiamentos crescentes. As necessidades poderiam duplicar em apenas cinco anos. Em 2014, o montante de empréstimos foi de 4,8 bilhões de euros, tendo aumentado para 6,2 bilhões em 2017 e devendo chegar a 10 bilhões em 2022. Empréstimos realizados sob a forma de emissões de títulos.


Um amplo leque de investidores

Como qualquer emissor de títulos, a Agence Française de Développement recorre a um vasto leque de investidores, com os quais os responsáveis de sua sala de trading se reúnem regularmente. Até 2019, os bancos centrais e outras instituições públicas representavam a maior categoria de investidores, comprando 41% dos títulos emitidos, seguidos pelos administradores de ativos (26%). 

É através dos grandes bancos, principalmente os bancos franceses, que a AFD procede às emissões, para títulos com duração compreendida entre 2 e 16 anos e, mesmo, até 25 anos, para pequenas somas.

Tratando-se de um banco público inteiramente detido pelo Estado, a AFD está em condições de contrair empréstimos em condições próximas às do Estado. Assim, para um empréstimo de 10 anos, a AFD deve pagar atualmente cerca de 0,30% a mais que o Estado (30 pontos de base adicionais). Uma diferença que era ainda menor antes da crise.  

As somas assim arrecadadas financiam, portanto, diretamente os empréstimos a favor do desenvolvimento. Além disso, para enfrentar uma hipotética crise financeira, sinônimo de retirada dos investidores e interrupção de todos os novos financiamentos, a AFD dispõe de reservas, um “colchão” equivalente a 9 meses de atividade de empréstimo.
Os green bonds, uma escolha política

Nos últimos anos, a AFD emitiu vários títulos verdes, ou green bonds: este dinheiro emprestado destina-se a empréstimos alocados ao combate contra as mudanças climáticas e à preservação do meio ambiente. Aliás, a AFD também foi precursora nesta área. Mas, embora os investidores estejam cada vez mais interessados nesses títulos “verdes”, a remuneração que exigem não é, contudo, significativamente inferior à dos títulos clássicos. 
Esta emissão de green bonds é, portanto, antes de tudo, uma escolha política que visa favorecer o crescimento sustentável no mundo.
 


Algumas operações recentes: 

Na esteira de várias outras operações realizadas por atores do mercado, a AFD aproveitou a melhoria das condições no mercado de títulos para lançar, durante o mês de junho, duas operações de captação de recursos, uma em em euros e uma em dólares, por um montante total de cerca de 1,8 bilhão de euros. Ambas tiveram vencimento de 18 meses, com fundos distribuídos da seguinte maneira: um montante de 1 bilhão para a transação em euros e um montante de 896 milhões de euros para a transação em dólares. 
Em 2020, a AFD mobilizou cerca de 7 bilhões de euros nos mercados para financiar suas operações de empréstimos para o desenvolvimento.