30.000
30.000 passageiros por dia na Linha Verde
36,5
milhões de euros: o valor do financiamento da AFD
30 %
dos moradores usufruem da recuperação das margens do rio Barigui
Diante da pressão demográfica e do número cada vez maior de automóveis, Curitiba vem redobrando esforços para manter a sua imagem de líder brasileiro em matéria de sustentabilidade e combate às mudanças climáticas.

O tom já é dado ao se desembarcar no aeroporto de Curitiba: pôsteres convidam os viajantes a ir de ônibus até a cidade e a ser “sustentáveis”. Aparece, então, do lado de fora, o primeiro “tubo” – apelido dado às estações de ônibus locais (estações-tubo), que, de fato, têm essa forma e estão equipadas com portas automáticas para embarcar no veículo, como no metrô. 

Até mesmo nas horas de pico, a malha urbana da capital do Paraná, concebida nos anos 1940 pelo arquiteto francês Alfred Agache e ampliada a partir dos anos 1970, pelo prefeito Jaime Lerner, viabiliza uma circulação bastante fluida, seja de carro, seja de ônibus. 

No entanto, deitada sobre os louros da vitória, Curitiba viu sua população dar um salto de cerca de 350.000 habitantes em dez anos, atingindo, hoje, 1,7 milhão (3,5 milhões na aglomeração). A cidade viu-se, então, diante de um paradoxo: embora disponha de uma rede de ônibus com corredor exclusivo e alto nível de serviço (BHNS ou BRT, modelo que Curitiba “exportou” para vários lugares do mundo), esta última vem perdendo passageiros e Curitiba transformou-se, agora, na cidade com maior número de carros por habitante (1,8) do Brasil.

Desde 2011, a intervenção da AFD vem buscando ajudá-la a enfrentar o principal desafio de sua agenda climática: melhorar a qualidade dos transportes, a fim de reduzir o número de carros e as emissões de GEE. Mas, também, para preservar a biodiversidade e se adaptar às consequências das mudanças climáticas, através da criação de um corredor ecológico. 
 

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Jorge Brand, conselheiro municipal, Curitiba, Brasil
“Goura” e a mobilidade urbana
A rede de ônibus de Curitiba é bastante desenvolvida; contudo, trata-se do único meio de transporte público da cidade. Há mais de dez anos, o vereador Jorge Brand, conhecido como “Goura”, milita a favor de uma ampla extensão das ciclovias, que atingem, atualmente, pouco menos de 200 km.

“Há um enorme potencial para a utilização de bicicletas, mas ela ainda é muito tímida. Se os curitibanos estão privilegiando o carro, é também porque o preço dos trajetos de ônibus é um dos mais caros do país (4,25 reais, cerca de 1,10 euro, N. da R.)”, lamenta o “Senhor Bicicleta” da cidade. “Os projetos de transporte público de Curitiba podem atingir a excelência com a integração sistemática das ciclovias, como no caso da Linha Verde.”
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Espaços verdes para todos
Curitiba é uma cidade com “cinturão verde”, ou seja, parques que estão localizados, em sua maioria, a oeste da cidade, nas margens do rio Barigui. Ninive Oricolli, uma aposentada de 56 anos, visita o local várias vezes por semana.

“Temos muitos parques magníficos, são lugares ideais para contemplar a natureza exuberante e a fauna local. São muito frequentados porque são muito bem organizados, dá para caminhar, correr ou, ainda, andar de bicicleta, fazer esporte e piqueniques”, aponta. “A Prefeitura fez muito pelos espaços verdes da cidade e os moradores de todas as classes sociais e de toda a região os utilizam assiduamente”.
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O gosto pelos transportes públicos
Já fazia dois anos que eles vinham pensando nisso, mas só entraram em ação há alguns meses. Bianca Zbuinovicz, 27 anos, e seu marido francês, Lucien, ambos professores de francês, venderam o carro para andar apenas de transporte público.

“Desde pequena, me ensinaram que Curitiba era uma capital ecológica, os moradores têm orgulho disso, e eu também gostaria de poder mostrar aos meus futuros filhos que nem sempre precisamos de carro”, explica a jovem curitibana. “Embora não seja perfeita, a rede de ônibus funciona bem, não precisa esperar nas horas de pico e as linhas principais têm ferramentas de informação que são úteis”.
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Um corredor ao redor da cidade inteira

A progressiva extensão da cidade ao Sul mostrou-se prejudicial ao estado do rio Barigui e à segurança de alguns moradores. De fato, o rio é bordeado por um sem-fim de moradias informais; com isso, suas margens são áreas de risco em caso de inundações e poluições. 

O financiamento da AFD permite uma recuperação da biodiversidade, graças à revitalização das margens e à criação de quatro novos parques. Os habitantes das áreas de risco estão sendo reassentados ou mantidos em suas moradias, já regularizadas. O objetivo, no futuro, é conectar todos os parques num só e formar um verdadeiro corredor ao redor da cidade inteira. Trata-se de um primeiro passo rumo à adequação às consequências das mudanças climáticas.

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AS CRIANÇAS TAMBÉM ENTRARAM NA DANÇA

Essa revitalização urbana veio acompanhada de um programa educativo ambiental, o “Olho d’água”, com a participação dos alunos de 30 escolas públicas da região, que supervisionam a qualidade da água do rio Barigui. 

"Esse projeto vai melhorar a qualidade de vida dos moradores desses bairros de baixa renda, com uma oferta de lazer gratuito", aponta Leonardo Werneck, chefe de projeto na I Care Environment e consultor da AFD. De fato, o projeto transformou completamente a área: "Depois disso, os moradores começaram a renovar os seus hábitos e novos comércios abriram". 

LINHA VERDE
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"Curitiba sempre se permitiu testar coisas novas, em todas as áreas, desde a criação de parques com coleta seletiva até o conceito de BRT, que nasceu aqui!" reivindica Ana Jayme, superintendente da Secretaria Municipal de Planejamento e Administração. Tudo isso se concentra no projeto "Linha Verde", uma verdadeira revitalização urbana, planejada para um período de 30 anos. 

Essa revitalização envolve nada menos do que 20 bairros, que se desenvolveram à beira de uma antiga rodovia, a qual, originalmente, contornava Curitiba de forma transversal, a sudeste. Fazendo hoje parte integrante da cidade, ela se viu dotada, a partir de 2009, de uma 6ª linha de BRT, a Linha Verde. Bem arborizada, ela também veio acompanhada de uma ciclovia. Sua extensão ao norte, a ser concluída no ano que vem, foi financiada pela AFD.

"A Linha Verde atende a uma importante demanda dos moradores da aglomeração de Curitiba e, embora ainda não tenha sido concluída, os resultados positivos são incontestáveis", aponta Leonardo Werneck. "As nossas previsões mostram uma redução real dos gases de efeito estufa", esclarece. Os ônibus articulados da Linha Verde rodam com biocombustível, com o objetivo de torná-los elétricos, no futuro, sendo que, nas outras linhas, há um número cada vez maior de ônibus híbridos (atualmente, 3,8% dos 1.500 ônibus, com a meta de ultrapassar 10% até 2020).

Com essa conjunção de projetos ligados à eficiência de sua mobilidade urbana e à revalorização de todos os seus elementos naturais, a capital do Paraná espera, assim, manter os trunfos que fazem dela uma cidade "exótica" no Brasil: verde, limpa e bem organizada.