Há 40 anos a comunidade indígena Palikur está instalada nas margens do Rio Oyack, na aldeia de Favard, município de Roura, na Guiana Francesa. A cerca de 30 km da capital Caiena, a vida da aldeia é ritmada pelas idas e vindas das canoas. São necessários vinte minutos para os habitantes irem até Roura e a rodovia, pois a aldeia é ligada à sede do município por uma longa estrada de chão muitas vezes impraticável.
Até recentemente, o abastecimento em água também era caótico. Uma nascente localizada a menos de dois quilômetros da aldeia permitiu alimentar a população durante muito tempo. Mas a água, não tratada, causava problemas sanitários recorrentes, principalmente durante as chuvas, quando a nascente ficava lamacenta e infestada por micróbios... Em 2002, o falecimento de um recém-nascido levou os responsáveis da aldeia a pedir água potável para o consórcio intermunicipal (CACL).
Graças a um financiamento de 200.000 euros concedido pela AFD, a CACL financia o saneamento e a padronização da produção de água potável na fonte de Favard. A pequena unidade de tratamento, do tamanho de um contêiner, foi inaugurada em 2016 para tratar a água da nascente antes de distribui-la nas casas da aldeia.
A estação de água potável da aldeia Favard é uma instalação única na Guiana, pois todo o sistema de máquinas é contido num contêiner, instalado abaixo da captação de água realizada pelos habitantes quando da sua chegada, em 1973. O contêiner foi inteiramente equipado na França continental antes de ser colocado a umas centenas de metros da aldeia. Dentro dele, encontra-se exatamente o mesmo sistema que em uma unidade clássica. Esse tipo de equipamento integrado é bastante utilizado na África ou em situações emergenciais, como nos campos de refugiados. O modelo poderia ser reproduzido em outros lugares da Guiana.
Captada em uma pequena nascente, a água é levada até a estação para ser tratada. Ela passa por três grandes filtros: os dois primeiros, de areia e carvão, para eliminar as partículas em suspensão, e o filtro de remineralização (a água da Guiana é muito pobre em minerais). A água também passa por um tanque de cloro, que mata as bactérias, e por um tanque de floculante que acelera a decantação. A vazão e o pH são monitorados o tempo todo. Na frente do contêiner, um reservatório de estocagem de 6 m3 é ligado à canalização de 690 metros que leva a água até a aldeia.
Dessa forma, em 2015, 200 turistas vindos da Guiana, da Europa ou de outro lugares (América do Sul, China etc.) puderam, durante um dia, dividir os costumes dos Indígenas, aprender a trançar, gravar em cabaças ou preparar comidas tradicionais. Eles eram mais de 800 em 2017 e o número de reservas é cada vez mais expressivo. O projeto já interessa outras aldeias indígenas da Guiana.
O projeto apresenta uma dupla vantagem para a comunidade: por um lado, ele permite redistribuir os lucros da atividade a todos os participantes, e por outro, promove o renascimento da cultura ancestral e das tradições que tendiam a esmaecer com o passar das gerações...
Mais uma vez, a adução de água potável da estação de tratamento “é uma excelente coisa”, explica Jean, o presidente da associação Walyku. “Podemos receber as pessoas e proporcionar água potável, isso facilita muito o desenvolvimento da nossa atividade!”
Outro reservatório de 15 m3 está sendo estudado para Favard. O consórcio intermunicipal e a companhia guianesa de águas realizaram estudos de solo para poder construir as fundações dessa futura caixa d’agua. Por enquanto, nenhuma data foi fixada e o reservatório atual é suficiente para o consumo diário da aldeia. Mas o projeto permitiria ter água por dois dias seguidos, mesmo em caso de pane na estação.
Os próximos projetos para a aldeia são a energia e a evacuação das águas servidas. Atualmente, algumas pessoas possuem painéis solares ou geradores que permitem alimentar as geladeiras ou ler à luz de lâmpadas. Mas os moradores gostariam de ter uma energia mais estável, mais barata, que permita o acesso de todos. Quanto à coleta das águas servidas – e dos resíduos sólidos – estudos estão em andamento.
Por fim, a aldeia gostaria de conquistar a sua autonomia alimentar. Nesse sentido, vários projetos estão sendo analisados, tais como a aquicultura, a criação de ovinos, ou a formação de pequenas roças agrícolas.