Nessa região árida do norte do norte do Quênia, dizem que até os elefantes têm o cuidado de deixar a floresta durante a estação chuvosa para permitir que ela se regenere. Mas a dependência das populações locais em relação à lenha, às pastagens para o gado e à água provocou uma forte degradação do ecossistema. O ciclo de regeneração das árvores, perturbado pela urbanização, a agricultura sedentária e as alterações do clima levou à perda de 1,6 ha de cobertura florestal por ano. Dessa forma, a floresta primária, que atrai a névoa da atmosfera todos as manhãs para alimentar as suas reservas de água, está desaparecendo aos poucos.
Para proteger esse recurso precioso, a AFD financia, desde 2012, um projeto integrado de melhoria do manejo do ecossistema da floresta, implementado pelo Kenya Wildlife Service, com a participação das comunidades locais. Esse projeto consiste em propor pontos de acesso à água alternativos, fora da floresta, para os habitantes e o seu gado. O mesmo para os animais selvagens e as sociedades pastorais nômades, ao longo dos corredores de migração essenciais para a sobrevivência do ecossistema. Com o alívio dessa pressão, a floresta poderá regenerar-se em seguida e continuar desempenhando a sua função de caixa d’água da região.
Os animais selvagens representam uma parte crucial do ecossistema da floresta. Quando á água é escassa, os elefantes, bem como as hienas, podem invadir as fazendas atrás de pontos de água. O projeto permitiu definir esses pontos de tensão com as comunidades do entorno da floresta. Foi restaurada uma cerca elétrica de 7,2 km instalada para afastar os elefantes. Outros 10 km foram construídos, para atingir um total de 42 km.
Mas se os animais não migrarem, a floresta, sobrecarregada, pode morrer. Foi preciso, portanto, respeitar os corredores de migração seguidos todos os anos pela fauna selvagem, e não obstruí-los. Para ajudar os animais, barragens de areia foram colocadas ao longo desses corredores de migração para as outras áreas de vida dos animais. Esse sistema permite reter a água no fundo do leito dos rios, que escorre rápido demais por causa da dureza dos solos depois da seca. As populações nômades do deserto também utilizam esses pontos para saciar a sede do seu gado.
Em volta da floresta, 100 cisternas foram distribuídas, algumas delas acopladas a um sistema de calhas para coletar a água da chuva. O objetivo é permitir que os habitantes sedentarizados desenvolvam os seus próprios viveiros e plantem as suas árvores fora da floresta, para não mais depender desta. No total, 200 cisternas de 5.000 litros serão instaladas e quatro viveiros comunitários já foram criados, que produziram 29.000 mudas.
As mulheres da comunidade Borana Kubi Dibayu criaram um grupo destinado a resgatar a sua cultura tradicional. Aqui as casas, os móveis, os ornamentos, tudo vem da madeira. Elas se associaram ao projeto e receberam uma das cisternas distribuídas para cultivar suas próprias árvores. Na sua cultura, a preservação da floresta é crucial... Mas o projeto também constitui uma oportunidade que querem aproveitar ao contribuir com a animação do museu cultural, outro componente do projeto que está sendo construído e será administrado pelo Kenya Wildlife Service.
Trabalhar com as comunidades para um resultado sustentável
O projeto também inclui a distribuição de 3000 jikos de baixo consumo de lenha. Esses fogões tradicionais, amplamente usados pela população local, permitem diminuir o consumo de lenha no preparo da alimentação.
500 colmeias de última geração também foram distribuídas, de um total de 1000, pois os habitantes, consumidores de mel desde sempre, procuram desenvolver a produção com fins comerciais. Essas colmeias permitem substituir o uso tradicional de lenha que implicava destruir as colmeias para colher o mel. A produção de mel está bem encaminhada e as populações, conscientes de que sem floresta não há mel, apoiam mais ainda a sua conservação.
Por fim, o Kenya Wildlife Service trabalha com a Water Resource Users Association, uma associação multicomunitária empenhada na implementação de um plano global de gestão das bacias hidrográficas e na coleta de dados úteis para a manutenção do ecossistema local.