O novo mundo dos estudantes em Moçambique

No fim da guerra civil que assolou o Moçambique de 1977 a 1992, menos da metade, menos da metade das crianças do país estava matriculada no ensino primário, e apenas 3,1% no ensino secundário. Nos anos 2000, a política proativa do Estado trouxe de volta a grande maioria das crianças para o ensino primário e secundário. Mas o fraco desempenho da aprendizagem e a insuficiência de docentes qualificados continuam sendo preocupantes.
Em plena consonância com a estratégia de Moçambique em matéria de educação, a AFD está financiando a construção de uma escola de excelência, a Academia Aga Khan, na periferia da capital, Maputo. A academia, um dos 240 estabelecimentos de ensino geridos pela Rede Aga Khan de Desenvolvimento (AKDN), visa fornecer um ensino primário e secundário de excelência para a educação e a formação de futuros profissionais altamente qualificados. O estabelecimento receberá também alunos de famílias de baixa renda, isentos de taxas de matrícula.
Para esse projeto piloto, a AFD concedeu um financiamento de 25 milhões de dólares à AKDN para a construção de um campus com um ambiente de aprendizagem e de ensino que responda às normas internacionais. Erguida em um terreno de 90.000 m2, a Academia Aga Khan hoje acolhe 81 alunos – com um número igual de meninas e meninos – desde a pré-escola até o fim do ensino fundamental. Ela pretende receber 750 alunos do ensino primário e secundário até 2026, com 75 diplomados por ano.
As crianças são bilingües em inglês e português desde a idade de sete anos. O seu currículo segue o programa do Diploma Internacional de Segundo Grau, que focaliza a capacidade de desenvolver um pensamento crítico e autônomo e de questionar as coisas com cautela e lógica. Os alunos estudam matérias tradicionais – idiomas, artes, matemática e ciências – mas também temáticas como “os indivíduos e a sociedade”, que devem ajudá-los a entender melhor a política, a sociedade, a cultura, o comportamento e a experiência humana.
Ao focalizar conjuntamente as competências técnicas e o “saber-ser”, a Academia Aga Khan forma indivíduos destinados a se tornarem os futuros líderes de Moçambique. Para melhorar o acesso à educação das crianças talentosas oriundas de famílias pobres, a academia subsidia as taxas de matrícula de 50% dos seus alunos e 10% recebem bolsas integrais.
Os professores locais são recrutados por meio de um concurso nacional e capacitados tanto em Moçambique como na Academia Aga Khan de Mombasa, no Quênia.
A professora de português e desporte, Adília Cabral, havia ensinado por 13 anos antes de entrar na Academia Aga Khan em 2018. Depois de recrutada, ela recebeu uma capacitação de um ano em Mombasa que modificou totalmente a sua abordagem pedagógica.
A Academia Aga Khan ressalta a importância de dotar os alunos de competências técnicas, como também de conhecimentos relacionados com a vida cotidiana. “Explicamos como o que ensinamos está ligado á sua vida cotidiana, e incentivamos a fazerem perguntas, compartilharem os seus conhecimentos conosco e com os outros alunos,” completa Adília Cabral.
Até a conclusão do projeto em 2026, o campus da Academia Aga Khan incluirá novas salas de aula, um complexo desportivo, um auditório e mais espaços verdes e recreativos.
Parte do terreno será utilizada para construir 90 habitações locacionais cuja renda permitirá garantir a viabilidade de longo prazo da academia e financiar futuras bolsas de estudo para os alunos oriundos de famílias de baixa renda.
Além disso, em breve serão propostas aulas de francês, em parceria com o Centro Cultural Franco-Moçambicano de Maputo. A AFD também iniciou discussões com a AKDN no sentido de financiar a construção de uma academia em Daka, Bangladesh. Já estão sendo previstas trocas entre alunos das três academias existentes (Moçambique, Mombasa no Quênia e Hyderabad na Índia).