Entre 30 de novembro e 12 de dezembro, estudantes e profissionais brasileiros reuniram-se para apurar o lugar dos dados na construção de cidades inteligentes e desenvolver ferramentas que simplifiquem a compreensão dos problemas públicos pelos funcionários municipais.
Durante 13 dias, cerca de 100 participantes colocaram seus conhecimentos a serviço da melhoria das políticas públicas de urbanismo durante o Hacker Cidadão, hackathon anual organizado pela Emprel, empresa de economia mista da cidade de Recife, no nordeste do Brasil. Em 2020, graças ao Fundo de Know-how Técnico e de Intercâmbio de Experiências (FEXTE), a Agence Française de Développement (AFD) pôde colaborar no desenvolvimento do evento com o apoio da Datactivist, uma empresa cooperativa francesa especializada em open data, i.e., “dados abertos”.
Enquanto as edições anteriores do Hacker Cidadão se concentraram no desenvolvimento de aplicativos ou websites, o evento deste ano privilegiou a realização de visualizações de dados (dataviz). Partindo do conceito das “Cidades 15 minutos” proposto pelo professor e cientista da Sorbonne Carlos Moreno, os participantes analisaram os dados disponibilizados pela cidade de Recife. O objetivo era compreender o território e equipar os agentes públicos graças a estes resultados. A iniciativa visava demonstrar o interesse dos dados na análise dos problemas públicos e seu papel no desenvolvimento de estratégias para a construção de Smart Cities.
Um hackathon inteiramente realizado online
Divididos em 9 equipes, cerca de 100 participantes colocaram sua experiência a serviço do interesse geral. Eles puderam se basear em seis keynotes cobrindo assuntos relativos ao tema do evento e comentados por profissionais de todo o país, assim como de 23 mentores espalhados pelo Brasil e três webinars de pré-lançamento, mais uma vez cobrindo uma variedade de tópicos. As keynotes e os webinars foram colocados à disposição dos participantes no site do evento.
Ao todo, o concurso distribuiu 6 mil reais (cerca de 1000 euros) em prêmios aos três primeiros vencedores. A equipe líder do desafio recebeu uma ajuda de cerca de 10800 reais (1700 euros) para melhorar sua solução e disponibilizá-la no portal de open data da Prefeitura de Recife no prazo de dois meses.
Recife, cidade 15 minutos
Cada vez mais desenvolvido na França, o Brasil descobriu pela primeira vez o conceito de “Cidade 15 minutos” criado pelo professor Moreno, aplicando-o à cidade de Recife. O levantamento consistiu em três fases principais: mapeamento das instalações públicas presentes em Recife nos seis eixos do Pr. Moreno (acesso a saúde, habitação, educação, alimentação, lazer e cultura); análise da disposição dos serviços e equipamentos na cidade utilizando estes elementos visuais; e, em seguida, proposta de soluções concretas visando a implantação da Smart City na capital do Estado de Pernambuco.
Resultados
Duas semanas após o evento, os vencedores foram designados:
- Primeiro lugar: Move Recife
Move Recife concentrou seus esforços na habitação e no acesso ao emprego na cidade através do ciclismo. O grupo conseguiu ir além dos dados disponibilizados pelo município para adicionar dados de várias fontes diferentes. Objetivo: entender “as Recifes”, ou seja, “as diferentes cidades que existem dentro de Recife”.
Aplicando estes dados, Move Recife foi capaz de decompor os dados em categorias socioeconômicas e descobriu que as classes mais populares usam bicicletas para o deslocamento de e para o trabalho. Por outro lado, as ciclovias estão superrepresentadas nos bairros onde os cidadãos não usam bicicletas como meio de transporte. A equipe também apresentou resultados claros e propostas concretas para a construção da “Cidade 15 minutos” em Recife.
- Segundo lugar: Recifé
A segunda equipe vencedora escolheu focar sua análise em três áreas principais: trabalho, saúde e educação. Para tornar sua análise ainda mais interessante, os membros da Recifé incluíram dados sociodemográficos em seu estudo. A partir desta divisão, identificaram alguns problemas principais, tais como uma má cobertura das escolas secundárias, a falta de hospitais públicos e uma infraestrutura ciclável deficitária. Como solução, a Recifé propôs uma plataforma onde, graças ao open data, os agentes públicos responsáveis pela condução de políticas públicas possam identificar “lacunas” nos serviços municipais no território recifense.
- Terceiro lugar: Cicloviz
A equipe Cicloviz identificou dois problemas principais em Recife: a falta de equipamentos necessários (saúde, educação, etc.) para o desenvolvimento da “Cidade 15 minutos” em alguns bairros, e, nos bairros onde a Smart City é hoje possível, um problema de insegurança, particularmente em relação aos ciclistas, devido à falta de infraestrutura para bicicletas.
A Cicloviz propõe o desenvolvimento de uma plataforma online, capaz de reunir dados de várias fontes (públicas e privadas, mas também de associações), e a criação de dashboards para ajudar os agentes públicos a identificar facilmente os problemas.