Na obra "As raízes do céu", Morel parte em cruzada contra o desaparecimento dos elefantes. O célebre romance de Romain Gary data de 1956, mas o combate travado pelo seu herói continua atual. Esta é uma realidade em todo o continente africano, nomeadamente em Moçambique, um país profundamente afetado pela recente recrudescência da caça furtiva dos elefantes.
De 2006 até à data, o número de elefantes em Moçambique foi reduzido para cerca de metade. Perante esta constatação alarmante, o governo reforçou o seu quadro legislativo ao longo dos últimos anos. A comunidade internacional aumentou também o apoio prestado às áreas de conservação do país para lhes permitir enfrentar as ameaças que pendem sobre a biodiversidade.
Para acompanhar a evolução da população de elefantes e avaliar a eficácia dos esforços desenvolvidos, no final de 2018, a AFD financiou um recenseamento nacional dos elefantes em Moçambique. Este foi o primeiro recenseamento realizado no espaço de cinco anos, no âmbito do projeto "Áreas protegidas e preservação dos elefantes em Moçambique" (APEM).

Sob a supervisão da "Administração nacional das áreas de conservação" (ANAC), uma equipa de especialistas moçambicanos e internacionais sobrevoou uma superfície total de 180 773 km². Objetivo: contar os elefantes, documentar o tipo e a localização das atividades humanas nas áreas da conservação e estimar o número e a localização de outras espécies de interesse.
Um exercício delicado
Durante cerca de dois meses, os especialistas sobrevoaram o país a uma altura constante de 91,4 metros a bordo de dois aviões ligeiros, com recurso ao método de "contagem por transecções". Este consiste em definir bandas de uma determinada largura, contar todos os elementos observados nas referidas bandas e depois extrapolar os resultados no conjunto da zona a estudar.

No total, os especialistas observaram 42 espécies animais diferentes, de elefantes a leopardos, passando por hipopótamos e búfalos. Para além disso, membros da ANAC acompanharam os especialistas durante o recenseamento para receberem formação relativamente ao exercício e para lhes permitir, no final, organizar e realizar esta missão tão delicada.
Objetivo: 22 000 elefantes
Após dois meses de contagem, os dados recolhidos foram primeiro convertidos em formato digital e depois submetidos a uma análise preliminar para corrigir os erros detetados. Mas o trabalho está longe de estar terminado.
Para garantir a fiabilidade dos dados e a respetiva comparabilidade com os recenseamentos realizados no passado, uma equipa do Grupo de especialistas no elefante africano da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) irá por sua vez analisar e potencialmente ajustar os dados antes da comunicação dos resultados finais.
Estes revestem-se de uma importância altamente política: o governo moçambicano fixou como objetivo do seu plano quinquenal a presença de pelo menos 22 000 elefantes no seu território. Importa dispor de um pouco da "margem" evocada por Morel no manifesto ecológico de Romain Gary, "onde o que não tem rendimento utilitário nem eficácia tangível, mas que permanece na alma humana como uma necessidade perpétua, se possa refugiar".
Ler igualmente: