Ela parece óbvia para alguns, falta cruelmente para outros e se anuncia como um imenso desafio para todos nos próximos anos. A água, esse recurso vital, estará no foco dos debates da comunidade internacional reunida por ocasião do VIII Fórum Mundial da Água organizado de 18 a 23 de março em Brasília.
Há urgência: mais de dois bilhões de mulheres, homens e crianças vivem com um acesso limitado à água potável, e 4,5 bilhões não possuem sanitários ligados a sistemas de tratamento de águas usadas. Não por acaso, o acesso de todos à água potável e aos serviços de saneamento é um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a ser realizado até 2030.
Em Brasília, a comunidade internacional é chamada a realizar progressos concretos, a exemplo dos fóruns anteriores, como o reconhecimento do direito à agua e ao saneamento, ou a entrada em vigor da Convenção das Nações Unidas sobre o Manejo das Bacias transfronteiriças. A AFD difundirá a sua visão da água durante essa nova cúpula: a de um bem comum a ser protegido e compartilhado em benefício de todos.
Com o Fórum Mundial da Água em março de 2018, a água estará no centro da agenda climática mundial. Qual é a abordagem da AFD a respeito dessa questão crucial?
Céline Gilquin, responsável pela Divisão de Água e Saneamento da AFD: Intimamente ligada à problemática do clima, a água é o principal desafio do século XXI. Ela é associada à saúde e à igualdade de gêneros, à economia e ao meio ambiente. Hoje em dia, ainda existem 2,1 bilhões de pessoas que não possuem acesso à água potável em suas casas.
Amanhã, as alterações do clima acentuarão as desigualdades: dois terços da população mundial viverão em zonas com falta d’água, e três vezes mais pessoas serão afetadas pelas inundações.
Para respondera esse desafio, o financiamento de ações de adaptação às consequências da alteração do clima é uma prioridade. A AFD incentiva a gestão sustentável e participativa do recurso hídrico, por meio de uma utilização racional da água nas atividades de maior consumo – a agricultura, a indústria e a água potável –, e o desenvolvimento de sistemas de tratamento e reutilização das águas usadas. Preserva-se dessa forma a quantidade e a
qualidade do recurso hídrico.
E a problemática do saneamento?
Muitas vezes, a questão da água é tratada apenas na perspectiva da água potável. Entretanto, 4,5 bilhões de pessoas não têm acesso a um sistema de saneamento, isto é, não dispõem em suas casas de sanitários ligados a um sistema de tratamento de esgoto.
Por isso a AFD se empenha em fornecer serviços de água e saneamento de qualidade, sustentáveis e pouco onerosos para as populações mais vulneráveis. Existe nessa questão uma dimensão de saúde pública muitas vezes negligenciada. Gostaríamos que as autoridades públicas nos chamassem mais para acompanhá-las na melhoria dos sistemas de tratamento das águas usadas.
No Brasil, por exemplo, financiamos o ambicioso programa de saneamento da companhia pública CASAN em doze cidades do Estado de Santa Catarina. No mesmo estado, a Proparco, subsidiária da AFD para o setor privado, concedeu um financiamento a uma operadora privada para a renovação e a melhoria da rede de saneamento em quatro outros municípios.
Qual é a importância da governança nos desafios ligados à água?
Antes da falta de recursos hídricos ou das dificuldades técnicas, a carência de boa governança constitui a primeira causa da falta de acesso aos serviços de água e saneamento. Observam-se taxas elevadas de acesso em regiões com déficit hídrico, enquanto certas regiões bem providas em água apresentam taxas muito baixas de acesso e serviços de péssima qualidade.
A criação de um marco institucional claro, a regulação e o fortalecimento das competências dos atores estão no âmago das preocupações da AFD. Por isso, 50% dos nossos financiamentos incluem um componente de melhoria da governança.
Créditos fotografia de Céline Gilquin: © Alain Goulard / AFD