5 boas razões para (enfim) se interessar pelos oceanos

Eles representam 71% da superfície do mundo e 97% de sua água. E ainda assim, o que realmente sabemos sobre eles? Tão vastos, tão profundos, tão impenetráveis, os oceanos conservam ainda hoje uma grande parte de mistério. Trata-se de um mundo ainda pouco conhecido, mas que precisamos urgentemente conhecer melhor.

Enquanto olhamos para longe, os oceanos suportam o peso dos excessos da humanidade: emissões de CO2, poluição plástica, sobrepesca, degelo dos polos, marés negras… Foi preciso esperar até 2016 para que o Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) decidisse dedicar-lhes um relatório especial, publicado três anos mais tarde, sublinhando sua importância no equilíbrio do clima, mas também sua fragilidade. Hoje os indicadores estão no vermelho, as transformações estão próximas.

 

ELES SÃO REGULADORES ESSENCIAIS DO CLIMA

Diante das mudanças climáticas, os oceanos são nossos aliados invisíveis, e portanto, indispensáveis: uma parte do excesso de carbono existente no ar, correspondente a mais de 25% de nossas emissões de CO2, é neles bombeada e dissolvida.

Os oceanos também absorvem cerca de 93% do excesso de calor devido ao efeito estufa. As correntes oceânicas - como o Gulf Stream - também desempenham um papel importante na distribuição do calor à superfície do planeta.

Mas por quanto tempo ainda? Os climatologistas alertam sobre a capacidade dos oceanos de continuar a armazenar tanto dióxido de carbono e calor nos próximos anos - ou mesmo de continuarem a estocá-lo! - e sobre as consequências que tais absorções terão sobre o equilíbrio marinho: as águas superficiais estão se tornando cada vez mais quentes e ácidas, se empobrecendo em nutrientes e oxigênio.

Ler também: Clima: o que aprender com o relatório “Oceanos e Criosfera” do IPCC (e como podemos agir)

O que podemos fazer? Reduzir as emissões de gases de efeito estufa! Neste plano, o Grupo Agence Française de Développement (AFD) está plenamente mobilizado, com uma atividade 100% compatível com o Acordo de Paris sobre o clima e financiamentos de projetos de até 5,2 bilhões de euros em 2020 para a mitigação e adaptação dos gases de efeito estufa nos países ameaçados.

“O que também é possível fazer é mobilizar ‘carbono azul’”: ecossistemas costeiros, como manguezais ou leitos de ervas marinhas, têm uma capacidade de sequestro de carbono sete vezes maior que a de uma floresta tropical. “Preservar e restaurar estes ecossistemas é, portanto, não só uma poderosa alavanca de mitigação, mas também de adaptação, ainda insuficientemente utilizada”, enfatiza Romain Chabrol, encarregado da missão Oceanos e Biodiversidade da AFD.

ELES ABRIGAM UMA DIVERSIDADE BIOLÓGICA INIGUALÁVEL

Do fitoplâncton à baleia, os oceanos abrigam cerca de 13% das espécies vivas conhecidas até hoje. E se apesar deste número continuam a ser classificados como o maior ecossistema do mundo, é que estima-se que 91% das espécies que ali vivem ainda não foram descobertas!

No entanto, esta biodiversidade tem de fazer face a várias ameaças de origem humana. Em primeiro lugar, a sobrepesca, que afeta um terço dos estoques pesqueiros do mundo. Depois há a poluição por plásticos (8 milhões de toneladas acabam nos oceanos a cada ano), pesticidas, hidrocarbonetos, metais pesados e antibióticos. Por último, nossas emissões de gases de efeito estufa, que têm consequências diretas sobre a vida aquática, devido à acidificação e ao aquecimento das águas que provocam.

Para tratar desta questão, o Grupo AFD financia vários programas de grande envergadura. À semelhança da iniciativa Clean Oceans, realizada com o Banco Europeu de Investimento (BEI) e o banco de desenvolvimento alemão KfW, que apoia 35 projetos destinados a evitar que a poluição produzida em terra atinja o mar.

ELES NOS FORNECEM RECURSOS E SERVIÇOS INDISPENSÁVEIS...

Esta é provavelmente a ligação mais direta que temos com os oceanos: eles produzem uma série de recursos, fornecem nossos alimentos - 20% da proteína animal que consumimos provém deles - contribuem para nossa saúde, nos fornecem fontes de energia e nos permitem transportar cerca de 90% das mercadorias mundiais.

“Os oceanos são uma base atual e futura para atividades econômicas essenciais, e também uma base essencial para muitos objetivos de desenvolvimento sustentável”, explica Romain Chabrol. “Mas esta fundação está sujeita a inúmeras pressões que a fragilizam e que podem comprometer os serviços que nos presta.”

A pesca excessiva põe hoje em perigo a renovação dos estoques pesqueiros em todo o mundo. A degradação das águas superficiais ameaça a vida aquática e as moléculas terapêuticas que elas contêm, enquanto a alteração das correntes oceânicas poderia, em última análise, colocar em questão os projetos de produção de energia offshore.

A solução? “Devemos nos interrogar sistematicamente sobre os impactos que os diferentes setores da economia têm sobre os ecossistemas marinhos, e procurar o melhor equilíbrio possível”, diz Romain Chabrol. “Dessa forma, incentivaremos uma economia marítima sustentável e inclusiva, às vezes denominada economia azul ou economia azul sustentável.”

… E PRODUZEM METADE DO OXIGÊNIO DO PLANETA

Os oceanos produzem metade do oxigênio da Terra. Tal como acontece com a vegetação terrestre, é o processo de fotossíntese que está em jogo. Exceto que aqui ele é realizado principalmente pelo fitoplâncton, um gigantesco aglomerado de organismos unicelulares, microalgas ou cianobactérias, flutuando na superfície dos oceanos.

De acordo com o relatório especial do IPCC publicado em setembro de 2019, esta produção está se tornando cada vez mais escassa. Um estudo recente realizado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) revelou, notadamente, que os oceanos perderam 1% a 2% de seu oxigênio entre 1960 e 2010, multiplicando as zonas mortas (ditas hipóxicas) para a fauna aquática. Trata-se de um fenômeno que deve agravar-se com o aquecimento das águas.

Para erradicar este fenômeno, precisamos tomar medidas para combater nossas emissões de gases de efeito estufa, bem como outras atividades humanas, como a sobrepesca e a poluição plástica, que aumentam a pressão sobre os ecossistemas marinhos. Neste contexto, o estabelecimento de áreas marinhas protegidas onde a fauna aquática possa encontrar refúgio é parte da solução..

PORQUE 2022 PODE SER UM ANO DECISIVO

Ainda assim, há algumas razões para se esperar um futuro mais brilhante para os oceanos. O ano 2022 está repleto de importantes reuniões internacionais para sua proteção. O próximo, o One Ocean Summit, organizado por iniciativa da França, terá lugar em Brest de 9 a 11 de fevereiro e deverá conduzir a novos anúncios e coalizões.

Ele será seguido, no final de fevereiro, pelo possível lançamento das negociações de um tratado sobre o uso dos plásticos na Assembleia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (UNEA 5.2). Em março, as negociações da ONU sobre a biodiversidade em alto-mar poderiam ser concluídas. No mês seguinte, a 7ª Conferência Internacional “Our Ocean” será realizada em Paulau, no Oceano Pacífico, antes da primeira grande conferência das Nações Unidas sobre os oceanos, a ser realizada em Lisboa no final de junho. A causa dos oceanos também será defendida na COP 15 sobre a diversidade biológica, em julho na China, e na COP 27 sobre o clima, em novembro.

“O ano que começa pode ser decisivo. Todos estes encontros internacionais são oportunidades únicas para inverter a situação e conciliar melhor as atividades humanas com a preservação dos oceanos”, afirma Romain Chabrol. “Naturalmente, o sucesso desses eventos dependerá da mobilização de todas as partes interessadas, tanto públicas quanto privadas.”